sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Mandala



I
É nos sonhos que habita o improvável

O incógnito que se busca na vida
E nossos atos não possuem o condão das fadas
Nem o atributo do sagrado
São simplesmente falhos
Milagre é o cotidiano apartado de surpresas

Na humanidade, o esquecimento é uma parcela de virtude
É o exagero que os deuses permitiram
Aos eleitos para desfrutar da felicidade
Profanos somos todos nós:Presos em atalhos de mentiras

Sem as quais nossa existência
Não sustentaria sequer uma verdade
Somos como sarcófagos
Matéria humana preservada para a posteridade
E nossos tesouros estão bem escondidos
Na placidez de almas embotadas
Talvez nunca sejam encontrados.
II
Sagrado são os desastres do arbítrio

Com os quais o humano se purifica
Dia a dia canonizado por uma amargura
Que lhe é legada pelos fracassos do espírito
Felicidade é uma teia malevolente de sentinelas da morte

Que nos espiam, sem que se expiem nossos pecados
Depreciam nosso pequeno conteúdo divino
Em meio a um decreto de incertezas
Ditadas pela força onisciente da interação de destinos
Em nossa missão não há misticismos

Estes são criados por uma vaidade obsessiva
Para explicar os caprichos do acaso
Ou simplesmente nossa imensa teimosia
Em não enxergar o quanto estamos sozinhos
Por mera incapacidade de altruísmos
Na sistemática liturgia dos dias.
III
Não, não são as estrelas que nos gizam

O destino do homem é conduzido por um itinerário de mágoas
E há sempre descobertas a serem empreendidas
Ainda que nossas bússolas estejam enferrujadas
Guardadas, por receio de navegar o desconhecido
Mesmo que nossos monstros só existam dentro de nós
E nós estejamos perdidos em um oceano de dúvidas
À deriva, com nossas suposições equivocadas.
Não há mais espaços para graças

A nossa sorte está lançada ao limite da selvageria
Nossa crença não comporta mais intervenções divinas
Nem expectativas de que estas aconteçam
Metafísica é uma presa consumida pelo tempo

Nossos ideais já não desafiam heresias
Estas se perderam em um vazio incompreensível
Criado pela tolerância dos sacrifícios da vontade
IV
Solidariedade é uma religião sem ídolos

Um comércio sujeito a piratarias
Não há templos a ela dedicados
Nem regras em seu escambo de chumbo
Seu sacerdócio é mero egoísmo
Sem espaços para quaisquer liberalidades
A menos que uma súplica de autopiedade
Seja o estribilho de sua prece contrita
A intolerância excomungou nossos dogmas

Esvaziando a consistência de credos passados
Nosso futuro foi reduzido a um círculo de aleivosias
Pela eficiência das existências falazes
A esperança é um estigma do onírico:Sem fé ou rituais se desenvolve a quimera

Que da liberdade, assumirá as amarras…
Mas nossos rebanhos serão conduzidos
Até o limite do desperdício
Talvez nunca mais sejam reencontrados…
(Se juntos já estiveram algum dia!).



André Pascoal

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